terça-feira, 8 de julho de 2014

Não sabes como doí ver a minha vida parada. Como me custa perceber que estou paralisada e nada consigo fazer porque este amor congelou-me.
Às vezes imagino se te deitas e pensas em nós. Em todo o mal que fizeste. No quanto me fizeste amar-te e deixaste-me na mão. Como ao longo de dois anos e meio toda a minha vida parou porque te esperei. E agora só sabes dizer que sou injusta e nunca me mentiste. Que fizeste isto e aquilo. Quando a única coisa que precisava, a única prova de amor que queria era que fizesses o certo e se me amavas fizesses de mim a única mulher.
Eu sou muito nova para viver a minha vida como a amante de um homem com vinte e oito anos. Eu não mereço isso. Eu não preciso disso. Mas sempre acreditei em nós. Sempre acreditei que era ao teu lado o meu lugar. Que ias ser o único homem na minha vida.
Tantas oportunidades de ser feliz dispensei porque te amava. Tantas coisas penhorei porque te amava. Dei-te mais de dois anos da minha vida em troca de nada. E mesmo depois de terminares comigo mais uma vez, não consigo deixar mais ninguém entrar na minha vida.
Tu deixaste-me sem nada. Tiraste-me o tapete e fizeste-me cair. E doeu tanto, a ferida que estes dois anos provocaram em mim está de tal forma aberta que não me consigo levantar. Não consigo olhar à minha volta e ver esperança em nada.
Por vezes ocorre-me  a ideia de que a morte é melhor que isto. E depois escondo-me de vergonha por ter deixado que me fizesses sofrer tanto que até isso se tornou uma ideia apetecível.
Sempre tive sonhos, a minha mãe sempre disse que eu sonhava muito, que queria muito, que ambicionava muito.Tu  apareces-te e tiraste-me toda a força que tinha. Nada na minha vida faz sentido. Olho em volta e não vejo nada. Dei-te tanto, que fiquei realmente a zeros. Olho-me no espelho e não vejo nada mais que uma menina sozinha e triste. Indefesa. Os meus olhos grandes que sempre brilharam tanto até nos piores momentos hoje são baços de desilusão e tristeza.
Tive tanto medo de te dar a mão desta última vez. Só eu sabia como me tinha doido quando me fizeste cair da última vez. Mas voltei a confiar em ti. Pensei "eu coloquei as cartas na mesa, ele sabe o que isto significa, ele não me vai fazer cair outra vez..". E aqui estamos nós, ao fim de dois meses. Ou melhor, aqui estou eu sozinha. A chorar desalmadamente. Sem conseguir me focar em mais nada. E tu ai. Bem. Com a família que querias.
Eu dei-te tanto que fiquei sem nada. E agora?
Vai.vê se me esquece...
Tira meu nome da lista de telefone
Vai ver que o mundo anda tão bem
mesmo eu sem você, você sem ninguém
Eu vou por aí, vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Não tem nada de mágoa
o caminho da água também é cheio de pedras
E o rio não pára
mas não tem nada de rio, de água, de pedra
Não tem explicação..não tem nada não
Eu vou por aí,vai se livra de mim
vai ver que é mesmo assim
Eu vou seguir a luz dos faróis que me lembram seus olhos
Vai ver que eles podem me ajudar a ver que não há de ser nada
Que nao há de ser nada..eu vou por aí,eu vou por aí
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome pra me perder
Pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome
pra me perder

Vai vê se me esquece
Tira meu nome da lista de telefone
vai ver que o mundo anda tão bem
mesmo eu sem você.
Eu vou por ai, vai se livra de mim, vai ver que é mesmo assim
Eu vou seguir a luz dos faróis eu me lembram seus olhos
vai ver que eles podem me ajudar a ver
que não há de ser nada
que não há de ser nada
eu vou por ai, eu vou por ai
pior de tudo é que a gente ainda vai se ver
ando em ruas que não sei o nome, pra me perder
pra me perder.
Eu vou por a

domingo, 6 de julho de 2014

O reencontro

E ele viu-a. Linda. Brilhante. Ouviu a gargalhada que amou, e apercebe-se agora, ainda ama.
E ali está ela, como se os anos não tivessem corrido para ela. Ou melhor, como ela um dia disse "quanto mais velha for, mais bonita vou ficar vais ver". E ele ria-se quando ela dizia isso. Chegou a dizer-lhe que ela com 30 anos ia estar cheia de rugas e velha. Gorda até.
Pelas contas dele, ela deveria estar com 29 anos. Ou quase. Sim, a última vez que falaram ela tinha 23 anos. Cheios de magoas, lágrimas e sofrimentos. A maior parte por causa dele. Nunca se conseguiu perdoar pelo que fez aquela menina que conheceu com apenas 20 anos. Linda, mas sem consciência disso. Misteriosa. Incrivelmente confiante, mas completamente vulnerável nas mãos dele. E fez com que ele se apaixonasse. Amou aquela mulher tão menina como nunca amou ninguém. Nem a mãe do filho dele.
E ali estava ela. A Gabriela. De vestido azul justo e cabelo preso. No alto dos seus saltos altos, parecia tão distante da menina que ele amou. Sem se dar conta, a sua mente começou a cantarolar "You get my head spinning" do John Legend. Era a música deles. Cantou-a tantas vezes ao ouvido dela.
-Já viste quem está ali Gustavo? A amiga da minha irmã! A Gabriela. Cresceu a rapariga. Olha lá! - disse o seu primo Jorge. Ele sabia o que se tinha passado. Gustavo não tinha aguentado e quando ela deixou de lhe falar, deu em doido e acabou por confessar ao primo que amava aquela mulher, que estava casado com uma mulher mas era a Gabriela que ele desejava.
- Já Já. Que coincidência ela estar aqui...Sabes se ela e a Adriana ainda falam?
- Não. Acho que já não falam aos anos. Mas a Inês ainda pergunta por ela. A última vez que a vi, foi antes de ela vir para Lisboa. Há três ou quatro anos. Queres lá ir?
- Vamos.

Dirigiram-se à mesa do bar onde ela estava com as amigas. Gustavo tremia por todo o lado. Sentia-se um adolescente tonto. Do alto dos seus 34 anos, sentia-se com 12. Ganhou fôlego e tocou-lhe nas costas:
-Gabriela?
-Sim? - Quando Gabriela sentiu aquela mão que já lhe tinha sido tão familiar quase desfaleceu. Ao virar-se, o seu olhar encontrou o de Gustavo e sentiu-se seis anos mais nova, sentada no carro dele em frente à praia de Leça. - Gustavo? Que estás aqui a fazer?
Ele não resistiu e abraçou-a. Um abraço que reuniu seis anos de saudades, arrependimentos, desejo e amor reprimido. E ela cedeu aquele abraço sem sequer pensar nas amigas chocadas a olhar para ela.
-Olá , disse ele com o sorriso de criança que ela tanto amou.
-Olá, disse ela com os olhos a brilhar, que estás aqui a fazer? Olá Jorge! Há quanto tempo! - disse enquanto cumprimentava o irmão de Adriana- A tua irmã? E a Sónia e as meninas? Como estão?
- A Sónia está em casa da minha mãe em Sintra com as meninas. A minha irmã está no Porto. Vim aqui às docas com o Gustavo para espairecer um pouco.
- A Raquel?Está com o Gonçalo na tua tia?
-Não. Está com ele no Porto...Divorciei-me...
Naquele momento o coração dela caiu. Não acreditou que aquilo tivesse acontecido. A falta de crença nisso foi o que a fez ignorar as centenas de mensagens e chamadas dele ao longo dos anos...
-Não sabia...Estás bem?
-Sim, foi à cinco anos atrás já. Ela já voltou a casar e engravidar.
-Oh! Não sabia.
-Se tivesses atendido as chamadas...
-Eu...
-Bem oh Gabriela apresenta-nos lá as tuas colegas que estão aqui chocadas a olhar para nós! Somos homens do norte então não se vê!
-Desculpem. Sim claro. Meninas estes são o Jorge e o Gustavo, velhos conhecidos do Porto. Estas são as minhas caras colegas de profissão. A Maria, a Joana e a Clara.
- Então e qual é a profissão? Já és advogada?
- Não, somos juízas.
- Conseguiste? - disse Gustavo com os olhos a brilhar de orgulho.
- Sim, há seis meses. Vim para Lisboa quando acabei a licenciatura tirar o mestrado. Um ano e meio depois entrei no CEJ.
-Parabéns! Sempre disse que o irias conseguir! - e não resistiu a tomar aquele corpo magro e atlético como se ainda fosse dele nos seus braços.
- Tens de parar de fazer isso. Tudo mudou - Disse ela enquanto lutava contra si mesma para o afastar.
- Bem meninas, não querem dançar enquanto estes dois colocam a conversa em dia?
- Bem parece que é melhor. Mas dançar não. Vamos ali ao casino ganhar algum dinheiro?
-Oh estas são das minhas. Vamos lá! Gustavo quando quiseres liga.
-Sim, vão lá.

-Gabriela...
-Gustavo...não faças isso...já passaram seis anos...
-E aqui estamos. E parece que nunca acabamos...
-Mas nos terminamos. Há seis anos atrás. Quando ao fim de três anos continuaste sem me escolher e preferiste ficar com a Raquel...
-Desculpa...Nunca deixei de te amar....
-Magoaste-me....Quase que me matas-te...
-Eu sei, desculpa..
-Isso não adianta de nada agora.
-Eu tentei dizer-te quando me divorciei...Eu fiz isso por ti, para ser só teu...
-Eu queria esquecer-te...Atender-te o telemóvel estava fora de questão.
-E as mensagens?
-Metade não as li...
-Os e-mails?
-Ainda estão por ler...
-Sentias assim tanta raiva de mim...
-Sim, queria deixar de te amar....Eu estou noiva Gustavo....
-Já adivinhava...olhei para a tua mão....
O telemóvel de Gabriela toca e ela atende
-Olá amor. Sim estou nas docas com as meninas. Sim, daqui a duas horas devo estar em casa. Dorme bem amor. Beijo grande.
E desligou. Como se aquele telefonema fosse a pior coisa do mundo. Como se tudo tivesse deixado de fazer sentido. Porque que aquele homem tinha de reaparecer? E porque que ela ainda o amava?
-Já vives com ele?
-Sim, há cinco meses...Caso daqui a dois meses...
-Eu bem disse na altura que um dia ias amar mais do que me amavas...
-Eu ainda te....- e o telefone volta a tocar- Sim amor? A minha mãe disse que estava tudo pronto. Sim fala com a tua tia e diz-lhe. Falamos quando chegar a casa...Beijo
-Tu ainda me?...
-Nada esquece. É melhor ir para casa.
-Gabriela....- disse enquanto lhe agarrava a mão...
-Não faças isso Gustavo....Eu ainda te amo, mas há outra pessoa. Desculpa.

E saiu pela porta fora. E ele ficou paralisado a olhar para ela enquanto ela voltava a fugir-lhe....
-GABRIELA!
Ela olhou para trás antes de entrar no carro.
-Gustavo...por favor n...
Ele não a deixou terminar e voltou a tomar aquele corpo e aquela boca como se nunca se tivessem separado. Como se ela ainda tivesse 23 anos e derretesse no meio do abraço dele. Na boca dele. Beijaram-se como se todo o amor que mantiveram escondido viesse à superfície.
-Gustavo...-suspirou ela- não podias...
-Gabriela....Eu amo-te...E tu também me amas....Fica comigo...Passa comigo a noite...
-Gustavo...- E fugiu. Entrou no carro e só parou no Parque das Nações onde vivia com Ricardo. Não tinha coragem de subir e encarar o noivo apaixonado à sua espera. Enviou uma mensagem rápida às amigas a explicar que se tinha sentido mal e preferiu ir para casa. Que amanha lhes ligava. E ligou o radio..."love your curves and all your edges. You're my ending and my begining". Bolas, mesmo seis anos depois aquela música ainda tocava na rádio e nos momentos menos apropriados....Lembrava-se como se fosse hoje...Sempre que se zangavam aquela música, como que a gozar com eles, não parava de tocar...."cause i give you all of me....and you give me all of you..."um dia foi assim. Ela amou aquele homem como se não houvesse amanha. Ela ainda o amava. Aquele beijo foi a prova disso. Já não o podia negar. Mas depois de tudo..Ela não podia....O telemóvel vibrou. Olhou para o Iphone e reconheceu imediatamente o número de Gustavo. "perdoa-me Gabriela. Ainda vamos a tempo de ser felizes juntos. Eu amo-te. Estavas linda esta noite. Desculpa".
Desligou o telemóvel quase a chorar e subiu. Quando encontrou Ricardo à porta da cozinha nem sequer o deixou falar. Beijou-o com raiva, com paixão, com desejo. E ele não resistiu aquela vontade dela, pegou nela e levou-a para a cama. Fizeram amor de forma agressiva. Apaixonada. Carnal. Ela queria sentir qualquer coisa que não aquele amor por Gustavo. Então amou e voltou a amar Ricardo como nunca o fez. Depois de vários orgasmos e o deixar extenuado, adormeceu nos braços dele a chorar de saudade de Gustavo.

-Bom dia amor - Ricardo beijou-a com todo o amor. Cada vez tinha mais a certeza que era ela a mulher da vida dele. Aquela noite foi a prova disso. - Chegaste a casa com vontade.Vamos repetir?
- Bom dia -e puxou-o para ela enquanto se entregavam de novo a um amor selvagem e sem rédeas.
-Bem, disse ele ofegante, que se passou ontem?
Ela levantou-se, vestiu a camisa dele e dirigiu-se a casa de banho com lágrimas nos olhos
-Nada amor, uma noite de mulheres normal. Vou tomar banho que tenho de ir para o tribunal ler uns processos.
-Está bem. Vou preparar o pequeno almoço.

Quando saiu do chuveiro, Gabriela voltou a pegar no telemóvel e ligou-o. Recebeu dez mensagens. Cinco do Gustavo a implorar que ela almoçasse com ele. Ignorou as mensagens, vestiu um vestido justo preto, calçou uns saltos altos, secou o cabelo, uma leve maquilhagem e dirigiu-se à cozinha.
-Estás linda amor. Muito trabalho? Tens a certeza que não queres tirar o dia para continuar a nossa maratona?
Ela riu-se. Como é que podia deixar aquele homem alto, moreno e de olhos verdes cheios de amor por ela, por um homem que durante três anos a deixou sempre no ultimo dos lugares na vida dele. Ali à frente dela estava o homem que ela sempre pediu a Deus, mesmo quando não acreditava ser possível voltar a amar. E ela amava Ricardo. Não como a Gustavo. Mas amava-o. E era com ele que iria casar. A família estava em êxtase com aquele casamento. Não ia estragar tudo agora. O telemóvel voltou a vibrar na mão dela. Olhou e viu que era novamente Gustavo: "por favor, dá-me só um almoço?". Olhou para Ricardo
-Eu amo-te e não vejo a hora de te chamar meu marido!
E ele beijou-a com tanto amor que ela não podia imaginar como é que era possível voltar atrás com o "sim caso contigo" dela.